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Partidos deixam diferenças ideológicas de lado e se aliam no Ceará

Aliança entre PT e PSL – posteriormente anulada – chamou atenção em Juazeiro do Norte. PTB também teve acordos questionados nacionalmente.

Se os brasileiros assistiram a uma polarização ideológica do País nas eleições de 2018, o cenário que se desenha para o pleito municipal deste ano é mais heterogêneo. Na hora de formar coligações, algumas lideranças políticas deixam em segundo plano disputas partidárias nacionais e trazem para o centro rivalidades locais. Por outro lado, alianças improváveis criam constrangimentos a dirigentes das siglas. No Ceará, coalizões ideologicamente contraditórias chamaram atenção nos últimos dias, após o fim do período de convenções, e evidenciaram divergências de pensamento inclusive dentro dos próprios partidos. 

Em Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, a candidatura do atual prefeito, Arnon Bezerra (PTB), foi um dos casos mais simbólicos no Estado ao tratar de tais impasses. Em um primeiro momento, o político recebeu apoio do PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Contudo, trouxe para ser candidato a vice na chapa Gabriel Santana (PT), correligionário do ex-presidente Lula. A proximidade com a sigla de esquerda alertou o presidente estadual do PSL, Heitor Freire, que anulou o apoio à candidatura de Arnon Bezerra. 

Queda de braço

Segundo Antônio Filho, o Conin, presidente estadual do PT, a orientação do diretório nacional é manter as alianças ideológicas e evitar partidos divergentes. “Eventualmente, pode haver excepcionalidade, mas, via de regra, implementamos uma linha ideológica nas nossas alianças”, disse. 

Já Heitor Freire defendeu que o diálogo e o bem-estar precisam estar acima de ideologias, mas ponderou que algumas alianças são inviáveis diante de divergências entre siglas. “Linhas ideológicas completamente distintas em uma coligação não vão dar bom resultado. Por isso que o PSL não faz coligação com nenhum partido de extrema esquerda, como PT, Psol e PC do B”, pontuou. 

Ainda na formação da chapa, o prefeito de Juazeiro recebeu apoio de líderes estaduais do PDT. O diretório municipal da sigla, porém, decidiu apoiar Glêdson Bezerra (Podemos). Na queda de braço, dirigentes pedetistas no Estado anularam o acordo municipal em prol de Bezerra.

Para o presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo, as eleições municipais são protagonizadas por divergências locais. “Não é o nosso caso, mas muitas siglas não correspondem necessariamente a um posicionamento ideológico. Então, na maioria das vezes, as cidades menores têm duas candidaturas: a do prefeito e a da oposição. E a disputa gira em torno disso”, afirmou. 

Interesses nacionais

Não bastasse o impasse entre PSL, PT e os diretórios do PDT, o próprio partido de Arnon se mostrou desconfortável pelas alianças com o PT. No último dia 17 de setembro, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, disse ter anulado convenções em municípios onde a sigla estivesse coligada a opositores da gestão de Jair Bolsonaro. 
No Ceará, o prefeito, que também é presidente da sigla no Estado, disse que nada muda nas alianças estabelecidas em diferentes municípios. “Seguimos aqui tranquilos, a coligação está mantida sem alteração”, disse Arnon. “Já fui de um tempo em que a ideologia me guiava, mas hoje me movo por objetivos concretos, porque isso que traz resultado para as pessoas e para a cidade”, ressaltou. 

Do Interior à Capital 

A decisão de Roberto Jefferson, se tivesse sido cumprida pelos correligionários cearenses, teria atingido também coligação em Fortaleza. Na Capital, após convenção realizada em 12 de setembro, o diretório estadual do PTB passou a integrar o grupo liderado pelo PDT para as eleições na Capital. O arco de aliança inclui também PSDB e DEM. 

PDT e PTB se encontram em outros municípios. Em Sobral, a aliança no entorno de Ivo Gomes tem integrantes da sigla petebista, além do PT. O prefeito de Aracati, Bismarck Maia (PTB), conseguiu trazer para seu lado PT e PL. Já em Maracanaú, a candidatura do tucano Roberto Pessoa tem entre os coligados PTB, Pros e PCdoB. 

Um cenário à parte são as alianças do PL com o PDT. Apesar de integrar, nacionalmente, o chamado centrão, no Estado os liberais têm nomes de oposição a lideranças pedetistas locais, como Dra. Silvana (PL) e Dr. Jaziel (PL). Em Horizonte e Maranguape, os dois partidos vão sair juntos na disputa. Neste último, apoiando Paulo Xerez (PDT). Já em Horizonte, a aliança construída por Nezinho Farias (PDT) inclui ainda PT e PTB. No grupo, também estava o PSL, mas o apoio foi retirado, segundo Heitor Freire.

Tradições locais norteiam decisões

Enquanto políticos se prendem a disputas ideológicas para ganhar visibilidade nas eleições nacionais, especialistas apontam que, nas disputas locais, forças tradicionais e familiares têm peso maior. Para o consultor político Leurinbergue Lima, alguns partidos ignoram alianças ideologicamente contraditórias porque o protagonismo nas disputas majoritárias é de quem está na cabeça de chapa e na candidatura de vice. 

“Em Juazeiro do Norte, por exemplo, é um nome do PTB e outro do PT, respectivamente. O PSL era componente do arco de aliança, mas não era protagonista. Então, quando viram que o PT estava, escolheram sair. Foi coerente”, avaliou. “Nessas disputas locais há uma especificidade, as tradições familiares se sobrepõem a ideologias e forças partidárias”, destacou. 

Cientista político e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Josênio Parente aponta que, para o eleitor, esses impasses criam ainda mais dificuldade para compreender o que o voto o representa. “É difícil estabelecer a sua participação e o resultado dela. Vira uma coisa muito parecida com o consumo, em que a escolha se baseia no momento, com o que você tem de imediato ali para negociar”, ponderou. 

24 de SET de 2020 às 09:35:27
Fonte: DIARIO DO NORDESTE
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Se os brasileiros assistiram a uma polarização ideológica do País nas eleições de 2018, o cenário que se desenha para o pleito municipal deste ano é mais heterogêneo. Na hora de formar coligações, algumas lideranças políticas deixam em segundo plano disputas partidárias nacionais e trazem para o centro rivalidades locais. Por outro lado, alianças improváveis criam constrangimentos a dirigentes das siglas. No Ceará, coalizões ideologicamente contraditórias chamaram atenção nos últimos dias, após o fim do período de convenções, e evidenciaram divergências de pensamento inclusive dentro dos próprios partidos. 

Em Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, a candidatura do atual prefeito, Arnon Bezerra (PTB), foi um dos casos mais simbólicos no Estado ao tratar de tais impasses. Em um primeiro momento, o político recebeu apoio do PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Contudo, trouxe para ser candidato a vice na chapa Gabriel Santana (PT), correligionário do ex-presidente Lula. A proximidade com a sigla de esquerda alertou o presidente estadual do PSL, Heitor Freire, que anulou o apoio à candidatura de Arnon Bezerra. 

Queda de braço

Segundo Antônio Filho, o Conin, presidente estadual do PT, a orientação do diretório nacional é manter as alianças ideológicas e evitar partidos divergentes. “Eventualmente, pode haver excepcionalidade, mas, via de regra, implementamos uma linha ideológica nas nossas alianças”, disse. 

Já Heitor Freire defendeu que o diálogo e o bem-estar precisam estar acima de ideologias, mas ponderou que algumas alianças são inviáveis diante de divergências entre siglas. “Linhas ideológicas completamente distintas em uma coligação não vão dar bom resultado. Por isso que o PSL não faz coligação com nenhum partido de extrema esquerda, como PT, Psol e PC do B”, pontuou. 

Ainda na formação da chapa, o prefeito de Juazeiro recebeu apoio de líderes estaduais do PDT. O diretório municipal da sigla, porém, decidiu apoiar Glêdson Bezerra (Podemos). Na queda de braço, dirigentes pedetistas no Estado anularam o acordo municipal em prol de Bezerra.

Para o presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo, as eleições municipais são protagonizadas por divergências locais. “Não é o nosso caso, mas muitas siglas não correspondem necessariamente a um posicionamento ideológico. Então, na maioria das vezes, as cidades menores têm duas candidaturas: a do prefeito e a da oposição. E a disputa gira em torno disso”, afirmou. 

Interesses nacionais

Não bastasse o impasse entre PSL, PT e os diretórios do PDT, o próprio partido de Arnon se mostrou desconfortável pelas alianças com o PT. No último dia 17 de setembro, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, disse ter anulado convenções em municípios onde a sigla estivesse coligada a opositores da gestão de Jair Bolsonaro. 
No Ceará, o prefeito, que também é presidente da sigla no Estado, disse que nada muda nas alianças estabelecidas em diferentes municípios. “Seguimos aqui tranquilos, a coligação está mantida sem alteração”, disse Arnon. “Já fui de um tempo em que a ideologia me guiava, mas hoje me movo por objetivos concretos, porque isso que traz resultado para as pessoas e para a cidade”, ressaltou. 

Do Interior à Capital 

A decisão de Roberto Jefferson, se tivesse sido cumprida pelos correligionários cearenses, teria atingido também coligação em Fortaleza. Na Capital, após convenção realizada em 12 de setembro, o diretório estadual do PTB passou a integrar o grupo liderado pelo PDT para as eleições na Capital. O arco de aliança inclui também PSDB e DEM. 

PDT e PTB se encontram em outros municípios. Em Sobral, a aliança no entorno de Ivo Gomes tem integrantes da sigla petebista, além do PT. O prefeito de Aracati, Bismarck Maia (PTB), conseguiu trazer para seu lado PT e PL. Já em Maracanaú, a candidatura do tucano Roberto Pessoa tem entre os coligados PTB, Pros e PCdoB. 

Um cenário à parte são as alianças do PL com o PDT. Apesar de integrar, nacionalmente, o chamado centrão, no Estado os liberais têm nomes de oposição a lideranças pedetistas locais, como Dra. Silvana (PL) e Dr. Jaziel (PL). Em Horizonte e Maranguape, os dois partidos vão sair juntos na disputa. Neste último, apoiando Paulo Xerez (PDT). Já em Horizonte, a aliança construída por Nezinho Farias (PDT) inclui ainda PT e PTB. No grupo, também estava o PSL, mas o apoio foi retirado, segundo Heitor Freire.

Tradições locais norteiam decisões

Enquanto políticos se prendem a disputas ideológicas para ganhar visibilidade nas eleições nacionais, especialistas apontam que, nas disputas locais, forças tradicionais e familiares têm peso maior. Para o consultor político Leurinbergue Lima, alguns partidos ignoram alianças ideologicamente contraditórias porque o protagonismo nas disputas majoritárias é de quem está na cabeça de chapa e na candidatura de vice. 

“Em Juazeiro do Norte, por exemplo, é um nome do PTB e outro do PT, respectivamente. O PSL era componente do arco de aliança, mas não era protagonista. Então, quando viram que o PT estava, escolheram sair. Foi coerente”, avaliou. “Nessas disputas locais há uma especificidade, as tradições familiares se sobrepõem a ideologias e forças partidárias”, destacou. 

Cientista político e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Josênio Parente aponta que, para o eleitor, esses impasses criam ainda mais dificuldade para compreender o que o voto o representa. “É difícil estabelecer a sua participação e o resultado dela. Vira uma coisa muito parecida com o consumo, em que a escolha se baseia no momento, com o que você tem de imediato ali para negociar”, ponderou. 

24 de SET de 2020 às 09:35:27
Fonte: DIARIO DO NORDESTE